Os Anos do Papagaio

em "The Well-trained Mind, A Guide to Classical Education at Home"

ANOS DO JARDIM DE INFÂNCIA - 4 E 5 ANOS

em The Well-trained Mind: A Guide to Classical Education at Home de Susan Wise Bauer e Jessie Wise

Até agora (exceto, claro, pelo Latim), nosso currículo contém nada que destoe da prática comum. A diferença vai ser sentida mais pela atitude dos professores, que devem olhar sobre essas atividades menos como “matérias” elas mesmas mas como uma aglutinação de material para o uso na próxima parte do Trivium. (Dorothy Sayers, “The Lost Tools of Learning”)

As casas dependem das suas fundações. Jornalistas agregam todos os fatos antes de escreverem suas histórias; cientistas acumulam informações antes de formarem suas teorias; violinistas, dançarinos e atacantes precisam da memória muscular, guardada em seus corpos na hora do ataque.

Uma educação clássica requer que um aluno colecione, memorize e categorize informação. Ainda que esse processo continue pelos doze anos, os quatro primeiros serão mais intensivos em armazenamento de informação.

Esse não é a abordagem preferida para o ensino básico. Muito tempo em sala de aula e energia foram gastos num esforço de dar às crianças cada oportunidade possível para expressar o que há dentro delas. Não há nada errado com a auto-expressão, mas quando ela tira a acumulação de conhecimento de cena, algo está desequilibrado.

As crianças são descritas como esponjas porque elas absorvem conhecimento. Mas existe outro lado para essa metáfora. Aperte uma esponja seca e nada sairá. Primeiro a esponja tem que estar cheia. A professora de linguagens Ruth Beechick escreve, “Nossa sociedade está tão obcecada com criatividade que as pessoas querem que seus filhos sejam criativos antes que elas tenham qualquer conhecimento ou habilidade com que elas possam ser criativas. O seu trabalho, durante os primeiros anos, é o de suprir o conhecimento e as habilidades que permitirão que seu filho transbordem com criatividade à medida que a mente deles amadureçam.

Isso não significa que seu aluno tenha que aprender sobre assuntos complexos em profundidade ou que você irá forçá-lo a memorizar longas listas de detalhes. Nos primeiros anos de aprendizagem, você encherá a mente e a imaginação de seu filho com o máximo de imagens, histórias e fatos que você puder. Seu objetivo é o de suprir de “ganchos” mentais onde mais tarde a informação será pendurada.

Pense numa informação que a maioria dos adultos já tiveram. Você lê sobre uma estrela de cinema qualquer, e de repente, vê o nome dela em todo lugar. Você aprende um novo vocabulário e percebe instantaneamente que ele estava infiltrado em todo tipo de texto. Você cruza com o nome de um pequeno país obscuro e nos próximos dias percebe uma dúzia de notícias sobre ele.

Você pode até dizer pro seu cônjuge, “Que coincidência!” Na verdade, você sempre esteve cercado esse tempo todo. O nome da estrela de cinema, o vocabulário novo, o país estrangeiro já estavam nas revistas e nos jornais, mas porque a informação era desconhecida pra você, seu olhar a perpassou sem reconhecimento. Uma vez que a informação entrou na sua memória, você a reconheceu e começou a acumular mais e mais detalhes.

Isso é o que você vai fazer com o seu filho nos primeiros anos de formação. Você poderá ler um livro sobre o planeta Marte para o seu filho do segundo ano. Se é a primeira vez que ele ouviu falar sobre Marte, ele provavelmente não abarcará toda a informação que você está lhe dando. Mas ele poderá ouvir no noticiário daquela noite a informação mais recente sobre a sonda espacial para Marte, e de repente algo que passaria despercebido acende em mente dele. Você lhe dirá, sobre história, sobre o deus romano Marte, pai de Rômulo e Remo, daí ele terá pendurado esse detalhe no gancho que você o forneceu ao ler aquele livro sobre os planetas. Quando ele encontrar a palavra marcial e perguntar o que significa, você poderá dizer que significa algo relacionado à guerra e que vêm do nome Marte, deus da guerra -- e a informação vai colar.

Toda a estrutura do trivium reconhece que existe um momento e lugar ideal para cada parte do aprendizado: memorização, argumentação, e auto-expressão. Os primeiros anos são ideais para a absorção de conhecimento.

Uma educação clássica parte do princípio que o conhecimento do mundo passado e presente têm prioridade sobre o mundo presente. O estudo intensivo de fatos equipam o aluno para uma futura fluência e articulação da auto-expressão. Um foco em auto-expressão numa idade tenra pode aleijar uma criança mais tarde; um estudante que sempre tenha sido encorajado a olhar dentro dele mesmo pode não desenvolver um suporte de referências, um senso de como medir as próprias ideias em relação aos pensamentos e crenças dos outros.

Então a chave para a primeira etapa do trivium é conteúdo, conteúdo, conteúdo. Na história, ciência, literatura, e, num grau menor, arte e música, a criança deve acumular montantes de informação: histórias sobre pessoas e guerras; nomes de rios, cidades, montanhas, e oceanos; nomes científicos, propriedades da matéria, classificações; enredos, personagens e descrições. O jovem escritor deve memorizar os instrumentos da linguagem -- partes do discurso, partes de uma frase, raízes vocabulares. O jovem matemático deve se preparar para a matemática superior ao dominar-lhe os fatos básicos.

AGORA OU NUNCA

Por que as primeiras quatro séries são um período particularmente frutífero para concentrar-se em conteúdo?

Essa será a primeira vez que o seu filho vai conhecer os ritos egípcios de embalsamamento ou a atmosfera de Vênus; essa é a primeira vez que ele vai entender do que a luz é feita ou por que os americanos se rebelaram contra os ingleses. Ele nunca terá uma segunda chance de ler O leão a Bruxa e o Guarda-roupa, ou escutar O hobbit lido em voz alta. Aproveite essa primeira energia. Deixe-o aprofundar. Deixe-o ler, ler e ler. Não o force a parar e refletir sobre isso ainda. Não o faça decidir sobre o que ele gosta ou não da Roma antiga; deixe-o embebedar de gladiadores e corridas de carruagens. Ele quer descobrir como as coisas funcionam, como os antigos viviam, onde fica o Vesúvio, como era Pompéia, coberta por cinzas vulcânicas. Essa sede pela mera acumulação nunca morrerá completamente, mas será mais facilmente satisfeita mais tarde. Mas as maravilhas daquele primeiro encontro com uma civilização estranha nunca se repetirão.

A mente imatura está mais preparada para a absorção que o argumento. A faculdade crítica e lógica só se desenvolve depois de muito tempo. O típico aluno de segunda série vai se sentir feliz em cantar o último jingle da televisão palavra por palavra mas vai te olhar de boca aberta se o perguntar porque o publicitário quer que ele compre o produto, ou quais são os méritos do produto, ou se o preço é justo. Não há nada errado em uma criança acumular informações que ele não entende ainda. Tudo vai para o depósito para uso futuro.

Susan se lembra que em algum momento da segunda série ela aprendeu a cantar toda a lista de verbos auxiliares. Os usos dos verbos auxiliares não eram lhe claras até muito tempo depois. Mas a lista a aparece na mente dela toda vez que ela está checando erros gramaticais ou quando ela está aprendendo uma língua estrangeira.

Finalmente, existe o fator diversão. Crianças gostam de listas nessa idade. Eles gostam de repetir informações rotineiras, mesmo que as não entendam. Eles apreciam a satisfação, o olhar no rosto do adulto quando elas desembucham o conhecimento armazenado, e o som das sílabas que despejam pela língua. Nós adultos, tendemos a “proteger” nossos filhos do trabalho de memória porque nós o achamos difícil e tedioso. Mas a maioria das crianças gostam de repetição e se deleitam com a familiaridade das palavras memorizadas. Quantas vezes você leu Ovos Verdes e Presunto para uma criança de quatro anos que já sabe toda a história de cor?

COMO ENSINAR NO ESTÁGIO PAPAGAIO?

Enquanto professor do seu filho, você servirá como uma fonte de informações. Nos primeiros anos, você contará histórias a partir de livros de histórias e de ciências. E você esperará que ele possa repetir a história e os fatos que ele ouviu de volta para você. Esse processo -- que vamos descrever em detalhes para cada área do currículo -- vai treiná-lo para agarrar os fatos e expressá-los nas palavras deles. Não faça os alunos cavarem fundo demais. Preencha a mente e a imaginação deles com imagens e conceitos, fotos e histórias. Espalhe conhecimento na frente deles e os deixem se esbanjarem.

PRIORIDADES

As escolas se esforçam para arrumar tempo para todas as matérias que os estudantes precisam e querem -- gramática, escrita, leitura, matemática, história, ciência, arte, música, religião, digitação, educação sexual e por aí vai.

Parte do dilema escolar é resultado justamente da imposição do papel parental; uma vez que você já está preenchendo essa posição, você não terá de decidir entre educação sexual ou matemática. Mesmo assim homeschoolers também sofrem com a quantidade de material que poderia ser abrangido. Existem tantos bons livros de História, de experimentos científicos, trabalhos de Literatura Clássica, peças para piano, concertos para violino, técnicas de arte. Como escolher?

No ensino básico, nós sugerimos que priorize a leitura, escrita, gramática e matemática. História e Ciência também são importantes. Mas se você não conseguir abranger toda a biologia na primeira série, não tem importância: a criança vai estudar Biologia pelo menos mais duas vezes antes que ele entre para a Faculdade. Se os poupar da leitura ou escrita, aí você provavelmente vai dificultar o progresso educacional do seu filho. História e Ciência dependem da leitura. Uma criança que lê e escreve bem absorverá quantidades surpreendentes de História e Ciência conforme ele desbrave. Uma criança com dificuldades em ler e escrever vai ter dificuldades em todas matérias.

Na primeira série especialmente, a mente do seu filho está cheia de novas habilidades. Você vai gastar uma imensa quantidade de tempo em tutoria individual. Habilidades de linguagem e matemática devem tomar a maior parte desse tempo. Se você tratar de História e Ciências duas ou três vezes por semana, tudo bem. Se você não iniciar música até o segundo ou terceiro ano, o céu não vai cair. Se você não tratar de Arte até a quarta ou quinta série, nada drástico vai acontecer. Não sinta que você deva ensinar cada matéria em profundidade.

E lembre-se, a educação clássica ensina uma criança a como aprender. A criança que sabe aprender vai se transformar num bem formado -- e bem equipado -- adulto...mesmo se ele não terminar o livro de Ciências do primeiro grau.